Dia da arte 2017 (Natal/RN)
Revirando o túmulo dos mortos
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O ponto alto do evento foi a exposição. Uma exposição com painéis numerados, suspensos no ar por finíssimos fios, onde o visitante poderia acompanhar uma locução com smartphone e fones de ouvido. As imagens estampadas nos painéis ganhavam vida e uma viagem no tempo, com explicações e uma música da época. Uma imersão milenar. O ambiente climatizado tornava mais agradável a viagem pelo mundo, pela história e pela música. Uma história encadeada que educou o mundo, determinando um nascimento, que influenciou diversos povos e continentes.
Mas por que não atualizar a filosofia para a nossa época, deixando de encarar a filosofia como um resumo histórico de pensadores considerados filósofos? Deixar de elencar nomes e épocas, criando um amarrado histórico, com autores, pensadores e temas selecionados. A dominação do pensamento, por estabelecimento de um currículo determinado e reconhecido. Falta um up grade filosófico para alcançar o nosso tempo.
Conforme já dito em outros textos, o mito da caverna atualizado é o uso do data show que substituiu o uso de slides. Imagens projetadas em paredes, normalmente em uma sala escura, uma caverna com quatro paredes. Um local onde os elementos sentados, imaginam como é o mundo do lado de fora da sala. E uma pessoa tem o controle de tudo. O controle da fala e o controle dos equipamentos que controlam a luminosidade e a temperatura. Com o poder de escolher as imagens, estabelecer as sequências, construindo uma ideia de espaço e de tempo. Mostrando um mundo e uma legenda a partir de suas ideias e pensamentos.
O dia da Arte no Solar Bela Vista, foi organizado pela Nova Acrópole, uma escola de filosofia, que funciona como um marketing de rede, difundindo a ideia por todo mundo, a partir de uma escolha de seu criador, determinando diretrizes e a escolha dos temas a serem abordados. Daí então percebemos uma necessidade de atualização dos temas abordados.
A escola Nova Acrópole é formada por alunos e voluntários. Voluntários com outros e diversos conhecimentos, diversas profissões que podem dar contribuições, aproveitando um público presente para socializar seus conhecimentos e saberes. Conhecimentos que circulam entre o povo e nas ruas.
Dos mapas de um tesouro, das plantas de edificações e estabelecimentos, percebemos a falta de uma mapa de risco da casa onde a exposição foi apresentada. Um mapa de risco não oferece apenas os riscos que podem ser encontrados nos proximos metros a frente. O mapa oferece um conhecimento com o uso de formas e cores, que o visitante poderá procurar em outros momentos, em outros eventos e outros prédios. A arte preparatória para conhecer outros ambientes. Uma filosofia de segurança plantada na geometria.
O local denominado com auditório, aberto com meia porta dificultava a entrada de pessoas, dos que se amontoavam pelo corredor. A sala não possuía saída de emergência, como também não possuía cadeiras especiais para determinadas pessoas. A temperatura do ambiente também não era confortável, nem um pouco agradável. E um médico do trabalho condenaria o ambiente para qualquer atividade, por excesso de risco e insalubridade. Nem tudo é transmitido por um mosquito.
O acesso de cadeirantes e pessoas com pouca mobilidade também se mostrou deficiente, no espaço como um todo, ainda que pudessem haver alternativas, entre porta da frente ou porta dos fundos.
A comitiva de recepção estava impecável, sempre atenta e sempre solicita. Mas no contexto geral faltou ao evento agregar conhecimento ao publico e à equipe. Para que não funcionasse apenas como evento de arte e estratégia comercial e promocional. Existe um conhecimento e uma filosofia nas ruas.
Diógenes de Sinope, o Sócrates que ficou louco segundo Platão, morava na rua. e alimentava-se de sobras. Possuindo poucos pertences, afirmava não ser um ateniense, mas um cidadão do mundo E por sua vida não tradicional, foi tema de muitas anedotas. Com seu cinismo atacou as palavras de Platão lançando um frango sem penas quando Platão diz ser o homem um bípede sem penas. Morando em um barril, tinha uma mobilidade urbana, ao movimentar seu barril e seus poucos bens para onde desejasse. A filosofia não pode oferecer sobras de conhecimento ao povo das ruas.
Em frente ao Solar Bela Vista e a Capitania da Artes, diversos carros estavam estacionados para que seus ocupantes pudessem adentrar à casa. Guardadores de carros, conhecidos como flanelinhas ou pastoradores, auxiliavam os filósofos que chegavam, para estacionar, em troca de algumas moedas. Já que os portadores de CNH, não se orientavam pelas faixas pintadas na via. Os pastoradores profundo conhecedores, da filosofia do mundo tal como Diógenes. A linguagem do trânsito, com cores, símbolos e placas é universal. E filósofos motorizados, em seus barris com rodas, insistem em desrespeitar as regras universais, para chegar na caverna e aprender o que acontece do lado de fora.
Em 19/03/2017
Em Natal/RN.
A cidade na extremidade do continente, que mostra um resumo do Brasil para o mundo. Pode ser o que restou de Atlântida com suas letras invertidas. NATAL/ATLAN. Uma visão a partir da ideia de um Acropolitano.