Um conhecimento que circula pelas ruas (9)
O Jornal de Hoje | Natal/RN | 23/04/15
Um
conhecimento que circula pelas ruas (9)
O conhecimento circula, e
está presente pelas ruas e ruelas da cidade. Segue como pegadas deixadas pelo
caminho, rastros e marcas que se deixa ao passar. Tal como as pegadas
ecológicas que o homem deixa ao transformar, alterar e modificar o ambiente. A
urbanização e transformação das cidades vão deixando registros históricos no
espaço e no tempo, no espaço público e no mobiliário urbano.
O conhecimento segue inscrito
e escrito pelas ruas com seus pavimentos e seus calçamentos. Transparece nos
detalhes observados por olhos atentos, em cada piso de rua ou calçada, muro ou
parede; ponte ou viaduto, todo o arruamento. Um olhar de Survey. Tipos de
desgastes em calçamento e pavimentação podem definir e caracterizar uma época,
e uma técnica utilizada. Marcas que podem caracterizar os tipos de transportes
que trafegaram pela via. Pisos com técnicas variadas e elementos diversos,
rígidos ou flexíveis, de acordo com tipos de transportes a serem utilizados, de
tração mecânica ou tração animal; movido por energia elétrica ou combustível. De
picadas, trilhas e caminhos, à estradas e avenidas, com pontes, pontilhões, vielas
e pinguelas.
Pavimentos resistentes ao
impacto e ao tempo podem contar e registrar uma história. Com registros de
épocas e eras: Épocas do Brasil Colônia, Brasil Império, ou Brasil República,
chegando a uma Nova República; Era da cana-de-açúcar e Era do Ouro. E agora a
Era do Conhecimento (Wi-Fi free); Todas as eras podem ser investigadas,
inspirando e obtendo um conhecimento. Eras que podem estar descritas no tipo de
calçamento. Um piso remete a uma época e a uma história. Uma leitura de livros
clássicos da literatura nacional poderá ajudar a identificar algumas variedades.
Pé de moleque, pedras portuguesas, pedras de mão e pedra sabão; e outras tantas
pedras diversas. Paralelepípedos, asfalto, bloquetes de concreto, encaixados ou
sextavados; ou simplesmente só concreto; massas e argamassas. São alguns tipos
de calçamento que cobriram antigos caminhos de barro, de terra, de areia, ou de
cascalho.
Pedras coloridas ou com cores
pintadas. Com linhas continuas ou tracejadas, sobre a pavimentação são outras
dicas de identificação. O elemento marcador e divisório, chamado de guia ou
meio-fio, define um limite e um espaço, para meios diversos. Com um
rebaixamento, torna-se outro elemento de identificação. Pintado de amarelo uma
nova informação.
Calçadas de concreto, ou
calçadas com pedras portuguesas definiram os espaços para os pedestres, com
toques de épocas e de colonização. Azulejos estampados e coloridos, coloniais
ou imperiais, contam parte da história da cidade, com influencias estampadas. Igrejas,
catedrais e capelas; portas e janelas, também contam a história de uma cidade. Arcos
e portais; marcos, paços e placas. Palanques, palcos e coretos. Santos e santas
podem explicar uma devoção católica, enquanto outros orixás traçam influencias
históricas. Tudo começa a partir do marco zero, ou no denominado local de
fundação da cidade.
Mercados municipais, a
reunião de alimentos e condimentos. Mantimentos e elementos para caça e pesca.
Artigos para plantação, irrigação e criação. E alimentos prontos para uma
consumação. Os mercados municipais reúnem um conjunto da representação cultural
do local. Bebidas e comidas, poesias e cantorias, degustadas e entoadas nos
mercados, definem um perfil cultural.
Bustos e arbustos em praças
contam uma história, e preservam uma memória. Lâmpadas e lampiões, postes e
muradas. Bancos e calçadas, balaustres e arcadas. Trilhos de bonde deixaram
trilhas aparentes sobre um calçamento. Antigos itinerários de moradores e
trabalhadores, turistas e veranistas. Tudo é um registro histórico, de uma
época ou de um governante, de uma técnica ali criada ou importada. Tudo disponibilizado
a quem passa, observa e investiga.
Cada cidade tem uma história
para contar, a cidade conta suas histórias aos seus visitantes que com olhar
atento podem observar cada detalhe, cada entalhe de suas pinturas e esculturas
espalhadas pelas ruas. Cata atalho que um dia se torna uma rua. Outros
conhecimentos mais elitistas, mais reservados e preservados, vão ser
encontrados em lugares fechados, como museus, armários e bibliotecas.
RN, 22/03/15
Roberto Cardoso
IHGRN/INRG
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