segunda-feira, 23 de março de 2015

Um conhecimento que circula pelas ruas (9)

 Um conhecimento que circula pelas ruas (9)


Um conhecimento que circula pelas ruas (9)
 O Jornal de Hoje | Natal/RN | 23/04/15



Um conhecimento que circula pelas ruas (9)

O conhecimento circula, e está presente pelas ruas e ruelas da cidade. Segue como pegadas deixadas pelo caminho, rastros e marcas que se deixa ao passar. Tal como as pegadas ecológicas que o homem deixa ao transformar, alterar e modificar o ambiente. A urbanização e transformação das cidades vão deixando registros históricos no espaço e no tempo, no espaço público e no mobiliário urbano.

O conhecimento segue inscrito e escrito pelas ruas com seus pavimentos e seus calçamentos. Transparece nos detalhes observados por olhos atentos, em cada piso de rua ou calçada, muro ou parede; ponte ou viaduto, todo o arruamento. Um olhar de Survey. Tipos de desgastes em calçamento e pavimentação podem definir e caracterizar uma época, e uma técnica utilizada. Marcas que podem caracterizar os tipos de transportes que trafegaram pela via. Pisos com técnicas variadas e elementos diversos, rígidos ou flexíveis, de acordo com tipos de transportes a serem utilizados, de tração mecânica ou tração animal; movido por energia elétrica ou combustível. De picadas, trilhas e caminhos, à estradas e avenidas, com pontes, pontilhões, vielas e pinguelas.

Pavimentos resistentes ao impacto e ao tempo podem contar e registrar uma história. Com registros de épocas e eras: Épocas do Brasil Colônia, Brasil Império, ou Brasil República, chegando a uma Nova República; Era da cana-de-açúcar e Era do Ouro. E agora a Era do Conhecimento (Wi-Fi free); Todas as eras podem ser investigadas, inspirando e obtendo um conhecimento. Eras que podem estar descritas no tipo de calçamento. Um piso remete a uma época e a uma história. Uma leitura de livros clássicos da literatura nacional poderá ajudar a identificar algumas variedades. Pé de moleque, pedras portuguesas, pedras de mão e pedra sabão; e outras tantas pedras diversas. Paralelepípedos, asfalto, bloquetes de concreto, encaixados ou sextavados; ou simplesmente só concreto; massas e argamassas. São alguns tipos de calçamento que cobriram antigos caminhos de barro, de terra, de areia, ou de cascalho. 

Pedras coloridas ou com cores pintadas. Com linhas continuas ou tracejadas, sobre a pavimentação são outras dicas de identificação. O elemento marcador e divisório, chamado de guia ou meio-fio, define um limite e um espaço, para meios diversos. Com um rebaixamento, torna-se outro elemento de identificação. Pintado de amarelo uma nova informação.

Calçadas de concreto, ou calçadas com pedras portuguesas definiram os espaços para os pedestres, com toques de épocas e de colonização. Azulejos estampados e coloridos, coloniais ou imperiais, contam parte da história da cidade, com influencias estampadas. Igrejas, catedrais e capelas; portas e janelas, também contam a história de uma cidade. Arcos e portais; marcos, paços e placas. Palanques, palcos e coretos. Santos e santas podem explicar uma devoção católica, enquanto outros orixás traçam influencias históricas. Tudo começa a partir do marco zero, ou no denominado local de fundação da cidade.

Mercados municipais, a reunião de alimentos e condimentos. Mantimentos e elementos para caça e pesca. Artigos para plantação, irrigação e criação. E alimentos prontos para uma consumação. Os mercados municipais reúnem um conjunto da representação cultural do local. Bebidas e comidas, poesias e cantorias, degustadas e entoadas nos mercados, definem um perfil cultural.

Bustos e arbustos em praças contam uma história, e preservam uma memória. Lâmpadas e lampiões, postes e muradas. Bancos e calçadas, balaustres e arcadas. Trilhos de bonde deixaram trilhas aparentes sobre um calçamento. Antigos itinerários de moradores e trabalhadores, turistas e veranistas. Tudo é um registro histórico, de uma época ou de um governante, de uma técnica ali criada ou importada. Tudo disponibilizado a quem passa, observa e investiga. 

Cada cidade tem uma história para contar, a cidade conta suas histórias aos seus visitantes que com olhar atento podem observar cada detalhe, cada entalhe de suas pinturas e esculturas espalhadas pelas ruas. Cata atalho que um dia se torna uma rua. Outros conhecimentos mais elitistas, mais reservados e preservados, vão ser encontrados em lugares fechados, como museus, armários e bibliotecas.


RN, 22/03/15

Roberto Cardoso
IHGRN/INRG

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